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Wimbledon: "Strawberry fields forever"

Quem é fã de tênis, sabe o quanto os Grand Slams são importantes para esse esporte tão amado ao redor do mundo. E, se acompanha os headlines da modalidade, sabe que o torneio de Wimbledon acabou de acontecer em Londres, neste mês de Julho. Um evento incrivelmente elegante, reconhecido e competitivo. Além de todos os patrocinadores que decoram os estádios e ruas do evento, vou falar aqui de uma tradição, que ocorre todos os anos durante o torneio. Estou falando da tradição dos morangos, que é consumida por fãs durante o campeonato, e claro, de outras tradições que ocorrem dentro das quadras. Afinal, o mundo não vive só de inovação!


Além de um snack saudável e delicioso, a tradição de comer morangos na Inglaterra nasceu com o Chanceler do Rei Henry VIII, o Cardeal Thomas Wolsey, durante o começo do século 16. Quando o Rei visitou a casa de Wolsey em Hampton Court, que era localizada perto de Wimbledon, o cozinheiro do Chanceler diz ter servido morangos e creme, uma outra adição famosa à receita que acabou se popularizando entre diferentes classes sociais, fato que só ocorreu após esse encontro. Desde então, essa combinação cresceu em popularidade e continua a ser o alimento mais servido no prestigioso All England Club.


Outro fato interessante sobre morangos é que existem referências sobre a fruta em trabalhos de literatura de grande autores como Sir Francis Bacon, Shakespeare, e Jane Austen. Quem diria que o morango que comemos hoje tem tanta estrada e história! E, alimentado por todas essas inspirações, a Hugh Lowe Farms, localizada em Mereworth, Kent, na Inglaterra, tornou-se o principal fornecedor de morangos que são vendidos durante o Grand Slam de Wimbledon. Jogando para o lado das marcas, essa fazenda faz um excelente trabalho de cuidado e carinho com seu produto. A dona da fazenda, Marion Reagan, que herdou o negócio de seu pai, comanda uma operação criteriosa durante os meses onde o fruto é mais produtivo–para garantir a máxima frescura, os morangos são colhidos às 4 da manhã pelos trabalhadores da fazenda, transferidos para o embalador às 9, e entregues no clube para inspeção e descasque. E agora, para o resultado final: mais de 28 toneladas de morangos são colhidas durante o torneio, totalizando 2 milhões de unidades servidas! É saúde e satisfação para muitas pessoas.


O que quero dizer com toda essa recapitulação é que, além do alto rigor na colheita e distribuição dos morangos, ao cultivar essa tradição ano após ano, o torneio de Wimbledon não sobrevive só de inovação e de atletas de alta performance, mas também de costumes, culturas que são igualmente importantes e instigantes.


Aliás, em Branding, uma área em que tenho o prazer de trabalhar, muitas empresas e marcas dependem da inovação, e algumas só da inovação, para crescer e atingir um certo status no mercado. É quase como uma ânsia que acomete essas organizações, onde a única forma de progredir é mostrar algo novo. E, ainda mais, essa dependência mostra que tais organizações se importam mais com novidades, muitas vezes destituídas de profundidade. Ignorando o quanto a tradição também pode propiciar esses impactos promissores. Mas não me entendam errado, não falo sobre inovação como algo inteiramente negativo. Pelo contrário, há muito a ser aprendido e estudado neste processo energizador, que representa um fator importante na longevidade e lucidez de empresas e organizações. Dito isso, ainda creio que a tradição, o resgate e continuação do velho, acaba sendo uma forma muito sóbria de alavancar novas oportunidades e soluções. No nosso mundo atual, onde a soberba digital atropela a simples ação de valorizar costumes preexistentes, a tradição, como a dos morangos em Wimbledon, é a conjunção adversativa necessária que nos ensina a parar e enaltecer o conservadorismo cultural como antídoto para acontecimentos cada vez mais desenfreados e míopes. Temos que ter uma visão clara, como profissionais de Branding e de outras áreas, daquilo que queremos honrar, sempre visando a tradição como construção essencial para trabalhos cada vez mais valiosos e completos.


Dito tudo isso, não é só de morangos (e creme) que vive o Wimbledon. O torneio tem muitas outras tradições! Começando pelas roupas que os jogadores usam, que precisam ser inteiramente brancas. Se você já viu um jogo na TV sabe do que estou falando. Outra grande tradição são todas as celebridades que marcam presença na Centre Court, a quadra principal do torneio onde os maiores jogos são hosteados. Nomes como Hugh Jackman, Jude Law e até a realeza britânica fazem parte da plateia. O ganhador desse ano, o jovem Carlos Alcaraz, até recebeu visita ilustre do rei da Espanha! Esses costumes, como a história dos morangos, adicionam valor ao torneio de Wimbledon, uma marca reconhecida globalmente.


Ao pensar e escrever este artigo, lembro-me das muitas tradições que já vivenciei dentro e fora do Brasil. Festa de São João, celebrações de Natal, até a coroação do Rei Charles III. Estes eventos marcaram e marcam minha vida, de formas diferentes, como o Wimbledon e seus morangos marcaram a vida de muitos fãs. A importância dessas tradições não pode ser subestimada–ela cria identificações culturais, nos coloca em uma rede e alimenta conexões. Acima de tudo, no universo das marcas e do Branding, esses costumes apresentam uma oportunidade para que empresas valorizem o respeito que existe entre consumidores e marcas e seus produtos. Não existe laço mercadológico mais poderoso do que este. Enfim, é uma lição para todos nós. O velho se torna o novo, e o novo se renova incessantemente, das quadras de Wimbledon para os stands de morangos com creme. Pessoal, inovação é importante para o crescimento. Mas a tradição é o respeito, é a calma, é o cuidado que transforma eventos como o Wimbledon, e seus morangos, em muito mais do que só um torneio de tênis–é a alma, a essência, a história por trás que conta.


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