top of page
Buscar

Morando no exterior: Aprendizados de uma Lisboeta e um Londoner

Morar fora não é brincadeira não! Mas vale a pena. Nós que estamos na Europa sabemos do valor dessa vida no exterior e já aprendemos muito com as coisas que vimos e vivenciamos aqui. É esse trilhar de novos caminhos, repletos de cultura e vida, que nos inspira e que nos move para o próximo destino. Como somos pessoas inquietas e sempre à procura de novas experiências, contamos um pouco de como foi o processo de mudança para um país novo e o que isso nos ensinou sobre a vida, dificuldades, crescimento, e, claro, o mundo das marcas.



Patrícia, a Lisboeta.

Realmente, morar fora não é brincadeira! Eu sempre tive uma vontade no coração de ter a experiência de uma vida fora do país. Qual a razão? Não saberia explicar. Mas somente posso falar que desde a juventude essa chama existia dentro de mim, e ela só estava crescendo com o passar do tempo.


Foram muitos anos deixando a chama de lado, e muita terapia e autoconhecimento para saber que valia a pena seguir.

E foi numa viagem para Lisboa em 2018 que realmente “bati o martelo” dentro de mim para seguir com os trâmites da mudança. Com visto em mãos, apartamento alugado e passagem comprada, o sonho teve que ser postergado mais um pouco... foi o momento da pandemia!


Mas acredito que tudo tem uma razão pra acontecer, e não deixei a chama apagar! Assim em 2022, quando as fronteiras para alguns países estavam abertas novamente, dei o tchau e até logo para o Brasil e me mudei para Lisboa.

Agora quando escrevo já tenho 1 ano nesse país que me recebeu tão bem, morando numa cidade que me encanta.


São tudo flores? Não. Sinto falta da minha vida antiga? Às vezes. Mas vale a pena.

E o que essa experiência tem me ensinado sobre o mundo das marcas? Hoje eu queria falar menos sobre uma marca de um produto ou serviço, mas mais sobre os bairros de Lisboa. Vocês sabiam que um país e bairros também podem ser considerados marcas? É o que se chama de Place Branding. De uma forma simplificada, um lugar, país, bairro, pode ter uma identidade e característica fortes e também suas vocações evidenciadas. Aqui em Lisboa, existem alguns bairros que, apesar de terem algo em comum que é serem bairros turísticos, eles também têm as suas particularidades. Vou falar de 2 deles.

Alfama, que eu adoro! Alfama é o bairro mais antigo de Lisboa com ruazinhas íngremes, estreitas e charmosas, mas mais do que isso, é o bairro onde, diz a história, foi criado o fado - um estilo de música melancólica que era cantado pelas esposas enquanto esperavam o retorno de seus maridos, pescadores que saíam mar adentro para pescar. É em Alfama que você vai facilmente encontrar cantoras e cantores de fado em diversos locais.


Outro bairro com suas particularidades é o Bairro Alto, que pode ser também chamado do bairro boêmio de Lisboa, ou “party neighbourhood”. Podemos dizer que este bairro tem duas personalidades diferentes: durante o dia é um bairro calmo, pacato, mas à noite, diversos barzinhos, mini discos, lugar para tomar shots, se abrem ao público. As ruas ficam cheias, e a festa vai até de madrugada. É no Bairro Alto onde diversas tribos se encontram, e convivem de forma pacífica.


Ainda tenho muita coisa a aprender e marcas para conhecer. Então, que venham os próximos anos, com suas novidades e aprendizados!




Gabriel, the Londoner.


Saí do Brasil quando tinha 16 anos e, posso falar, não me arrependo de nenhuma decisão ao longo desse meu trajeto que agora completa quase 11 anos. São 11 anos de aprendizados e experiências que me desafiaram muito, mas que trazem consigo memórias inesquecíveis.


Me lembro como se fosse hoje, o dia em que saí do Brasil pela primeira vez para ir morar em Atlanta, nos Estados Unidos. Meu medo, junto com meu fervor adolescente, estava à flor da pele, e não consegui conter minhas lágrimas no avião. Lá estava eu, triste, inconformado, confuso, babaca, e acima de tudo, amedrontado. Virado de cabeça para baixo. Parece que ia entrar no exército, mas coração de poeta é assim, se remexe, volta, pula, agacha, se levanta, deita, e levanta de novo. Era uma grande mudança, sim, mas por alguma razão, eu não conseguia ver o ‘silver lining’ dessa jogada toda.


Dando um ‘fast forward’ de dez anos, reflito com muito carinho neste poetinha miúdo, quieto, melancólico, mas vejo o quanto ele já andou, o quanto ele aprendeu morando fora. Esse é o maior ensinamento para mim. A transformação a partir do deslocamento geográfico. E, me atrevo a dizer que esse mesmo deslocamento facilita muito um outro tipo de deslocamento, uma fuga mental. No momento que o cérebro se dá conta de que ele está em um cenário novo, um país novo, as avenidas se abrem e a criatividade rola solta. A viagem é feita sentado, imaginando, devaneando. E o gosto de quero mais é forte, é o que alimenta essa loucura que é morar no exterior. Falo para todo mundo, morar fora é difícil, mas você nunca irá se arrepender. Alguns ficam, outros voltam, mas o que sobra é sempre uma lição, aquela ruga interna que só é conquistada quando passamos pelo fogo e saímos vitoriosos do outro lado.


Aquela dor inicial de sair do Brasil é como se estivesse prestes a pular numa piscina gelada. No momento, não queremos pular, estamos quentinhos fora dela. Não queremos o choque térmico, nosso corpo recusa, nossa mente nos xinga. Mas o coração quer, ele quer e ele vai, porque é atraído ao desconhecido, à pura filosofia de viver, de jubilar e cantar. Ainda bem que eu pulei na piscina, se não estaria sequinho, sem nada para me preocupar. Depois do pulo, continuei elétrico e com frio, mas consegui pegar umas toalhas por aí para me secar e me adaptar ao clima. As toalhas são nossas amigas, e você vai precisar delas quando for fazer esse pulo. A toalha da família, a toalha dos amigos, das festas, das corridas.


E as marcas? Ah, as marcas! Mais do que marcas, acho que morar em Londres é ter uma relação profunda com a cena artística e cultural da cidade. Eu que sou poeta vivo babando com todas as disponibilidades, todos os eventos! Posso dizer com convicção que cidades como Londres, podem ser marcas em si. E descobri que essa marca, além de centenária, respeitada e culta, tem suas submarcas, aquelas que vejo em supermercados, em boates, em restaurantes, andando no famoso ônibus vermelho ‘double decker’. Pensando em Branding, sinto que há uma relação muito forte aqui dessas submarcas com a grande cidade de Londres. Daí saem trabalhos de Place Branding fantásticos! Perambulando e me adentrando na vida aqui no Reino Unido, percebi também o quanto uma marca pode ter um caráter quase inspiracional na vida das pessoas. Esse é o caso da família real, que atua como uma marca mãe do Reino Unido. Sou um pouco cuidadoso para fazer essa denominação, mas explicando mais profundamente, creio que vão me entender, e talvez até comecem a pensar nas marcas como algo que vai além de produtos e commodity.


Percebi a real escala da família real quando assisti a homenagem póstuma da rainha Elizabeth II. Apesar do triste contexto da ocasião, vi milhares e milhares de pessoas em uma fila quilométrica para dar adeus à rainha, para compartilhar aquilo que queriam ter falado para ela e nunca tiveram a chance, para agradecê-la pelo serviço e dedicação à nação britânica, e para abençoá-la na sua passagem além do nosso mundo. Vi homens adultos em prantos, inconformados. Vi mães agarrando seus filhos, imigrantes oferecendo flores ao túmulo da rainha, tudo para homenageá-la. Morando em Londres, percebi o quanto a família real significa para o povo britânico, e o quanto essa marca já caminhou, já serviu como apoio para milhões de pessoas nos quatro cantos do mundo.

A família real representa aquilo que todos nós estamos à procura, compaixão, liderança, e acima de tudo, pertencimento. É a representação do ideal self a partir da premissa de que nosso self atual, combinado com um espaço de idealização, nos propulsiona para uma vida mais alinhada com aquilo que realmente queremos ser e representar. Aquilo que queremos nos identificar. Nada como bons líderes para levantar nossos espíritos e iluminar o caminho que temos que percorrer pela frente. E alguns podem dizer que a monarquia e família real britânica não mais combina com os dias atuais. Tenho dúvidas, se realmente fosse pouco importante, por que ainda gera tantas filas, tanta mídia, tantas fofocas? Por que há tantas repercussões de caráter positivo da família real na vida de milhares de britânicos?



Enfim, podemos dizer que aprendemos e estamos aprendendo muito nas cidades que escolhemos viver. E para todos que queiram se aventurar em oceanos desconhecidos, convidamo-nos! Ou, para aqueles que estão apenas iniciando sua jornada, vamos começar na piscina, dando mergulhos pequenos em direção a tudo que nos espera. Afinal, qual a pior coisa que pode acontecer? Voltar? Talvez, mas sempre transformados após nossa coragem e valentia!


bottom of page