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BOTAFOGO, FREUD EXPLICA

Antes de tudo, parabéns, Palmeiras! Uma frase que, vinda de um Corinthiano como eu, é um reconhecimento ainda mais autêntico da conquista.


Mas, e o Botafogo, como pode ter acontecido o que aconteceu?


Entendo muito pouco de futebol, apenas o essencial para não perder minha cidadania brasileira. E entendo muito menos ainda de psicanálise, somente uma levíssima e fina demão de verniz. Mas acho que o suficiente para especular sobre o porquê da tragédia do Botafogo no Brasileirão. Alguém pode dizer que foram múltiplas causas que levaram ao escorregão ladeira abaixo no segundo turno do campeonato. O que é verdade.

Porém, há uma em especial que não sai da minha cabeça. Como um time que chegou a estar com 13 pontos à frente do segundo colocado na tabela, de alguma forma, com a mão na taça, “entregou a rapadura”? Mais uma informação: 1995 foi o último ano em que o Botafogo ganhou esse troféu. 


Lembrei-me de algo que Freud havia escrito há mais de cem anos. E, mais uma vez, acho que ele explica! Trata-se de um pequeno texto de 1916, chamado “Arruinados pelo êxito” (Em outra tradução, “Os que fracassam com no triunfo”), vejam a seguir o que ele diz. Desculpem-me pela citação longa:

Uma outra observação me revelou um homem bastante respeitável, que, professor universitário, por muitos anos alimentara o compreensível desejo de suceder na cátedra o seu mestre...Quando, após o afastamento desse senhor, os colegas lhe participaram  que somente ele poderia  sucedê-lo, começou a hesitar, diminuiu seus méritos, declarou-se indigno de assumir a posição que lhe destinavam e caiu numa melancolia que nos anos seguintes o deixou incapaz de qualquer atividade.”(pag.262, Companhia das Letras-Obras completas volume 12)


Alguma coisa muito pouco consciente acontece a quem não se sente merecedor do triunfo e, com isso, o abismo está logo ali na frente. Nossa “engenharia interna”, que não nos é acessível de forma automática, prega essas peças.


Outras pessoas mais inteligentes do que eu, como Nelson Motta, já mexeram nesse vespeiro antes. Ele citou outros casos no jornal O Globo em 2022: Ronaldinho Gaúcho, Adriano Imperador. E na política, “Palocci que se destruiu no auge do prestígio e da popularidade, quando se credenciava a ser candidato a presidente da República”.


Dá para colecionar outras histórias no esporte em que, no momento mágico do triunfo, o ator ou atores da vitória iminente se auto-sabota. Lembro-me muito bem, em 2012 em Londres. A seleção brasileira havia ganho os dois primeiros sets da seleção russa e, no terceiro, tinha dois matchpoints nas mãos. Permitiu a incrível virada da Rússia. Perdeu o terceiro, o quarto set e o tiebreak e cedeu a tão ambicionada medalha de ouro.


Alguma coisa acontece nesses tristes mas quase inevitáveis momentos, quando essas forças internas impedem que se chegue ao “proveito longamente ansiado” (op.cit). Uma armadilha anterior, nem sempre fácil de se compreender, como se fosse uma auto-profecia não revelada que se realiza à nossa revelia.


Coisas assim vivem acontecendo ao nosso redor e com cada um nós, lógico.

Para não deixar dúvida alguma, nada tira o mérito da força e talento da grande conquista do Palmeiras. Este sim foi sempre movido por uma profecia de outra natureza.

 

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